sexta-feira, 20 de agosto de 2010


Facil é invejar ao ateu

Que de tão tranquila e pacifica lhe apresentou a vida

Nunca teve a necessidade sufocante de Deus

Nunca precisou olhar para o céu e clamar misericórdia

Nunca teve mortos a quem desejou vivos, ainda que em alma

É impossível sofrer sem se espiritualizar e permanecer vivo

Destes que sofrem sozinhos, morto permanece o coração

Aos que aprenderam a cultivar o espírito no padecimento

A vida apenas prossegue o rumo do que os cabalistas podem classificar como carma

É o mais próximo que se pode ter da felicidade

Se todo ser humano procura um sentido na vida

É porque todos possuem o desejo de construir algo significativo

Apenas neste desejo e na concretização deste, o homem abandona a maldade inata

Da qual justificam as leis e argumentam os filósofos

E pode abraçar finalmente a parte mais bela da religião

(que ainda que peque em certos preceitos)

É a única categórica em afirmar e confirmar a bondade inata do homem

E na sua intenção óbvia de fazê-la prevalecer.


“Sim, as brutalidades do Progresso chamam-se revoluções! Depois delas acabadas, reconhece-se uma coisa: que o gênero humano ficou maltratado, mas que deu alguns passos para diante! [...] O Progresso deve crer em Deus. O bem não pode ter por servidora a impiedade. Mal vai o gênero humano se o ateísmo é seu guia! [...] Ideal, ideal, só tu existes! [...] Existe o infinito. Ei-lo ali. Se o infinito não tivesse um -eu-, o -eu- seria o seu limite, e, portanto, não seria Infinito, ou, por outras palavras, não existiria. Ora ele existe. Logo tem um eu. O eu do infinito é Deus!”

Vitor Hugo. Os Miseráveis.


Foto por: Apoena Baquara, Invisiveis do Caminito. Buenos Aires, 2010.

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