quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A Busca da Mensagem Ideal








A humanidade é boa ou má? Nenhum dos dois, ela apenas é, apenas existe. Assim como não se pode caracterizar raças, animais e plantas como malignos, os humanos são apenas outros animais. Porém eles possuem uma habilidade altamente desenvolvida, a comunicação. Esta habilidade possibilita que o homem seja capaz de modificar o ambiente ao seu redor. Como? Bem, comunicando-se ele é capaz de incitar revoluções, de transmitir ódio ou amor coletivo, é capaz de realizar grandes projetos, é capaz de mudar situações arraigadas, é capaz de defender a si próprio e ao próximo, é capaz de ensinar, de evoluir. Não apenas o homem se comunica com o homem, a natureza envia mensagens, e o ser humano é capaz (talvez a única criatura) de comover-se, de perceber beleza, de considerar milagroso ou divino, de buscar respostas. A partir do momento em que o homem primitivo definiu o que era sagrado, que se perguntou sobre sua função no mundo, que começou a enterrar seus mortos, ele se tornou homem. A descoberta do sagrado foi tão relevante quanto do fogo, pois definiu o sentido de humanidade, o sentido de continuidade, o de função, a escrita, e por consequência, o registro.

Dentro de sua evolução o ser humano iniciou atividades parasitárias, as quais se tornaram nocivas para o organismo vivo maior, a Terra. Esta espécie, uma entre tantas, a primeira que começou a tomar consciência de sua função como célula de um organismo maior, adoecia seu hospedeiro. Mas isto ainda não o torna mal.

Como todas as criaturas, a humanidade possui o seu lugar, sua função no mundo, e sua capacidade de comunicação também serviu para que sua atividade parasitária fosse diminuída através de estudos e difusão de informações. Era preciso amar a terra e suas criaturas, embora a mensagem para a preservação ambiental tenha que ter sido mais egoísta exatamente para termos de impacto, o ser humano tinha que preservar seu ambiente para que prosseguisse existindo, para que sobrevivesse, os produtores de campanhas de conscientização constataram que mensagens de amor à natureza não seriam tão impactantes em uma sociedade globalmente cética.


A comunicação é a força do homem, com ela produzimos arte, conhecimento, informação, ciência, tecnologia, difundimos curas para o corpo e para a alma. Curamos também outras criaturas, e somos capazes de ajudar na geração da vida, pois sabemos como plantar a semente na terra e no útero de outros animais. Somos belos por essência, nem bons, nem maus.

Na era da comunicação, da informação aparentemente infinita, nossa missão está clara, possuímos o canal, temos agora que sermos capazes de fruir da parte certa da mensagem, até filtrarmos todas as cacofonias e pedras do texto, e sermos capazes de juntos produzirmos a “mensagem ideal”, a qual explicarei mais adiante.

Não se deve temer os canais de comunicação, não se deve temer a tecnologia, ela é aquisição de conhecimento. Esta temeridade, presente na escola conservadora, impede a fruição correta do indivíduo, desde criança, de fruir idealmente da mensagem, este fruir seria exatamente adquirir conhecimento através de qualquer tipo de mensagem, inclusive as que se pretende poupar uma criança de ter acesso.

O ruído está na própria mensagem, imperfeita por ser humana, mas por ser humana, por ser uma função de uma célula de todo o organismo maior, tem sua função, seu grau, seu ponto, sua maneira ideal de fruição. Essa fruição ideal se dá apenas através do conhecimento, da consciência expandida que contém em qualquer mensagem, é ignorar a infantilização que a mídia confere aos seus leitores, o negativo, e ser capaz de fruir. A era tem como tônica a comunicação, todos os seres estão interligados agora por uma rede “paupável” que o homem pode reconhecer como real.

A mensagem ideal é o que se pretende obter quando se escreve as leis, a Bíblia, Alcorão e outros livros sagrados, os códigos de conduta, os direitos humanos, os tratados, etc. Estes textos aproximam-se da mensagem ideal por conta de sua intenção de organizar a humanidade, de conferir função, o texto escrito com o pensamento no outro é o texto que caminha em direção da mensagem ideal.

Esta mensagem ideal seria, ou será, produzida coletivamente. Como? Tornando o ser humano capaz de fruir dela, refletir a respeito dela, argumentar, fazer contraposições, editá-la e repassá-la a outros humanos igualmente capazes que farão o mesmo exercício. Com a repetição do exercício, aconteceria a limpeza do texto, apenas o que estivesse de acordo com toda a humanidade, porém analisado individualmente (pois a massa é burra), teríamos o que chamo de mensagem ideal.

Porque tal reflexão é necessária? Tal reflexão é necessária porque a linguagem humana é composta por signos que não compreendem todo seu significado, cada ser humano tem uma concepção para cada signo de sua língua, de maneira tal que as coisas precisam ser explicadas, exemplificadas e argumentadas de maneira tal que o outro possa compreender, pela sua maior parte, o sentido daquilo que seu interlocutor diz. Se não fosse assim a mensagem ideal não precisaria nem mesmo ser explicada, seria como, por exemplo, máximas humanas: “A água é úmida”, não há discordância ou explicação.


O erro habita no descaso. Descaso de todos que produzem informação (e hoje em dias todos produzem), que, sem pensar em seu receptor, envia mensagens confusas e desnecessárias na rede. Quando a mensagem é produzida com o pensamento no próximo, por mais que ela não seja a mensagem ideal, caminha em direção à mesma. Quando a mensagem é produzida de maneira egoísta, ela apenas fornece mais poluição à mensagem, afastando a humanidade de seu objetivo implícito. Porém estes também possuem sua função, quando todos forem capazes de fruir idealmente da mensagem (e todos os homens devem pensar em ideais, para que se chegue o mais próximo dele), essas mensagens poluídas possibilitarão uma digressão, esta digressão fornecerá respostas para o próprio ser humano sobre si mesmo como essência.

O fanatismo religioso foi necessário na história como nós a compreendemos para que o homem descobrisse a existência de sua alma, o racionalismo extremo foi necessário para que o homem descobrisse sua liberdade, sua força e sua capacidade, seu movimento como ser ético, capaz de julgamento sobre si próprio, o homem livre seria capaz de livrar-se do “bezerro de ouro” da religião imposta, com regras e pecados, e assumir seu Deus interno, reconhecê-lo como paixão (pathos) e aceitá-lo como realidade (logos), para a concepção ideal do ethos, ética.

Depois de um tempo o homem teve que negar a própria força comunicativa, pois alguns homens faziam uso da mesma de maneira egoísta, de maneira a se sobrepor sobre os outros, sua hierarquização social tornava seu próximo menos ascendido socialmente como um ser vulnerável, crianças e populações menos favorecidas. Assim, os que procuravam a mensagem ideal produziram censuras, proibições, com o intuito de proteger.

Não se pode mais proteger o indivíduo da rede de comunicação como não se pode protegê-lo da necessidade do acúmulo de dinheiro para a troca dos bens com os quais acredita precisar para viver. A única maneira de proteção seria o ensino dos mecanismos da mídia. A mídia possui maneiras de se fazer penetrar na mente do indivíduo, aquele que souber quais são esses mecanismo, tornar-se-á imune à manipulação e disponível para a fruição de qualquer tipo de mensagem, de maneira livre e consciente. Sendo assim, será capaz de julgar, de exigir seus direitos, e exigir de sua mídia, que é o espelho da sociedade, outro tipo de informação, mais adequada a seres não mais infantis em suas fruições narrativas.

Como ajudar a produzir a mensagem limpa? Produzindo cuidadosamente e conscientemente, com o “coração no lugar certo”, a intenção da mensagem é que terá o efeito necessário, mais do que seu conteúdo. O texto informativo produzido com humildade, sem a formulação de sentenças prontas, julgamentos, estereótipos, sem uso de caracterizações (o perfeito prefeito, o maléfico bandido), e a admissão de que a verdade impressa no papel ou circulando na rede pode estar errada, que a verdade daquele indivíduo, por mais apaixonada que esteja, pode ser descartada, será o que mais chegará perto desta mensagem ideal.

A arte não, a arte é livre, deve ser completamente livre, pois ela é que abre portas e caminhos para essa fruição ideal do mundo, dos sentimentos internos, ela é emancipação e revolta, é mudança e denúncia, os artistas são o coração da humanidade, lembra ao homem o seu “beeing”, o seu ser/estar, e não seu bem/mal.