sábado, 12 de março de 2011

Um poema de Fernando Pessoa lido em um restaurante no Japao






Japão, 2011.

Passaporte número 4356-0, visto permanente.

Data do check-in: 4 April, 2002.

Estado civil: solteiro.

Profissão: Atendente de escritório.

Data de nascimento: 05 de julho de 1983.

Mora: sozinha.

Dependentes: não.

Animais: dois gatos.

Nacionalidade: brasileira.

Único registro em vídeo sobre sua estadia no país é o de um restaurante. Fernanda, após ter pedido para o dono do restaurante para ler um poema para, em suas palavras, “aliviar seu coração”, e ter jurado que seria rápido, fez o seguinte discurso:



Hello everybody!

My name is Fernanda Pereira , and I am from Brazil.

This is not my place, this is not my language, this is not my culture

But I fell sadness and it seems like poetry

In this foraging land nobody knows me

When my birthday was important to other people, it wasn`t as important to me

As it is now that I don`t have that people to sing it happy to me

That`s why I translated a beautiful Portuguese poet that I studied at the university, Fernando Pessoa, and I want to read my translation for you

In my heart it`s tenderness to bring life and words to sorrow

I hope that bring you the energy to come back to your houses thinking that someone

In this world

Fells as lonely as you, and realize that anyone have empathy with loneliness, because everybody have it.

Here I go:

In the time the party my years,

I was happy, nobody was dead.

At the old home, even my birthday was a century tradition,

And everyone`s happiness, and mine, was certain as any religion.

In the time they party my years,

I was healthy to don’t realize anything,

To be smart among family,

And don’t have hopes that other have for me.

When I had hopes,, I didn’t knew how to have them.

When I looked to life, I missed the meaning of it.

Yes, what I was the supposition of myself,

What I was the heart and familiarship,

What I was as half land in the mid-afternoon,

What I was as loving me and me being a girl,

What I was – oh, my God! What only today I know I was…

What distance!...

(can’t find it…)

When they party my years!

O que ela afirmou ser a tradução do poema de Alberto Caeiro (Pessoa), que leu em seguida em português:

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

Ela foi aplaudida e se retirou. Hoje a família a procura por todo o país, já fazia tempo que sumira, o tsunami devastou o local, o desespero de sua mãe, que não a tinha enterrado e não a entendia morta, apesar de desaparecida a quase um ano. Porém ela desembarcou no país na madrugada do mesmo dia, e fez a tradução da segunda parte do poema, sem linguagem, mas a roupa, e o olhar:


O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...



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