domingo, 8 de novembro de 2009

O outro lado de Assis - A 'Terra do Nunca' em plena luz do dia.


Muitos estudantes ficaram com os pés vermelhos de barro nesse final de semana. Era tanta gente que as fontes oficiais se contradiziam, e qualquer um acreditaria se dissessem 10, 20 ou 30 mil. De tanta gente que era naquela confusão.
Todos na mesma expectativa – O início do InterUnesp 2009 em Assis.
Logo nos primeiros jogos já começaram os hinos com a algazarra da bateria, o chope na faixa prometido não tinha chego e o pessoal comprava a própria bebida (isso 11 da manhã).
É importante lembrar que o primeiro dia do Interunesp não é realmente quando ele começa. A maioria dos estudantes festeja dias antes, fazem festas conhecidas como “pré-inter”, como duas que foram divulgadas na cidade, muitas vezes promovidas pelas próprias atléticas para arrecadarem dinheiro para a estrutura dos jogos e da bateria.
Meia hora de fila para pegar bata e caneca e um abandono total dos professores na sala de aula, todos alegavam que não conseguiam esperar mais.
A cidade fica colorida, todos os habitantes se entreolham e perguntam o que é aquilo. Aquilo, ou aqueles, são na grande maioria estudantes de classe média e alta que passaram no vestibular numa faculdade pública e tiveram condições de pagar o interunesp, que não foi nada barato. Em Assis só a primeira leva de entradas completas foi 170 para os próprios unespianos (quem era de fora pagava mais caro, e entre alguns rola certa revolta sobre os não-unespianos dentro da festa), e ninguém contou com os 20 reais diários de estacionamento, lanches, bebidas e energéticos para quatro dias de festa, jogos e bebedeira. Para os que vêm de fora, tem mais o ônibus ou combustível do carro, almoço e jantar, e alguns que pagam para tomar banho.
Ao entrar no site oficial pode-se encontrar definições sobre seus objetivos, a promoção de atividades desportivas e integração entre os alunos. Mas a coisa fica um pouco mais confusa na prática, é difícil não imaginar que aquela galera só quer mesmo cair na farra, festar, beijar na boca, beber, dar risada e curtir a fase jovem longe dos pais.
Dessa mesma forma, curtindo a máxima do “liberou geral”, todos os hinos são repletos de palavrões, o hino anti-Bauru é o mais cantado, e fica muito difícil não cantar junto, não repetir e tirar sarro do pessoal. E não tem quem não goste.
Nesse clima, Prudente tinha uma mãozinha inflável mostrando o dedo do meio com o “Hey Bauru”, e Bauru por sua vez tinha sua própria mãozinha com o “Vai você”. Mas tudo era levado tranquilamente. Quando, na empolgação, se cantava o “Hey Bauru” para um deles, eles próprios completavam a frase. E ficou difícil não falar tudo com ritmo e rima nesse meio tempo. Era engraçado ver um grupo de meninas cantando “A Conti não é legal, a Conti não é legal” só porque o chope não veio na hora certa.
No primeiro dia encontrei um menino dessa mesma tão mencionada cidade deitado na calçada ao lado do meu carro. Resistindo ao impulso de levar a caneca tão bonitinha e dourada da “tribo inimiga”, acordamos o coitado bêbado e lhe foi sugerido gentilmente que procurasse sua turma. Assim fomos para a casa começar a rotina.
Nossa rotina era simples. Acordávamos no horário de almoço, comíamos, colocávamos a bata de novo e íamos para os jogos atrás do caminhão de chope, que por sinal era da Conti, o patrocinador era da Skol, e eles tinham que ficar longe dos ambientes dos jogos e da Unesp, assim ou o pessoal bebia ou via os jogos, claro que todos podem imaginar a escolha que fizeram. Bebiam e iam para a tenda.
Depois dos jogos íamos para o jairão, onde estava a tal tenda eletrônica, dançávamos, riamos, e íamos para casa comer, dormir e tomar banho. Depois de umas duas horinhas de sono, agente acordava e ia para a balada, que ficávamos até umas sete e meia da manhã (pouco perto de muitos outros).
Fora o primeiro, os outros dias foram de entrada livre durante a tarde, lá o pessoal dançava e fazia os jogos alternativos, aqueles mesmo que não podem ser colocados no folheto para não assustarem os pais. Os jogos do campeonato sempre foram abertos ao público.
Na festa a noite tinha fiscal do fumo, não muito eficiente, pois tinha gente demais, mas o ar estava bem limpo. Tinha bebida o tempo todo, muita gente caída no chão, duas ambulâncias, (as quais para estrear meu namorado resolveu ir lá tratar um joelho ralado – e foi bem atendido), musica boa e dança.
Para ir de casal a um lugar assim tem que deixar o ciúme um pouco de lado, sempre haverá a paquera, pois a maioria está lá para a “pegação” mesmo, mas todos são muito respeitosos.
Pela manhã um segurança que confiscou uma colher de madeira de um menino e veio declarar que gostaria de me bater, eu estava parada ao seu lado esperando que meu namorado saísse do banheiro. Com toda a classe que juntei o mandei tomar em um lugar não muito confortável, e fui embora depois de ele se insinuar novamente, sempre rola o preconceito contra estudantes e suas festas.
Os jogos foram de atletismo, handebol, tênis de mesa, basquetebol,
judô, truco, futebol de campo, natação, voleibol, futsal, tênis campo, vôlei de areia e xadrez, e foi impossível a qualquer um que tentasse assistir todos, mesmo só os da própria cidade. Não adianta, nesse evento a regra é “tudo ao mesmo tempo e agora”.
As quadras são cedidas pela prefeitura e os alojamentos são em escolas estaduais e municipais. Os que não queriam ficar nos alojamentos ou iam para um hotel ou montavam acampamento no gramado da Unesp. Assis consta na 1° divisão, é o favorito no truco e pegou em terceiro lugar no desafio da bateria.
A InterUnesp acontece desde o ano 2000, a cidade sede é sempre escolhida por votação e participam 19 Campi da Universidade Estadual Paulista sendo eles Araçatuba, Araraquara, Assis, Bauru, Botucatu, Dracena, Franca, Guaratinguetá, Ilha Solteira, Itapeva, Jaboticabal, Marília, Ourinhos, Presidente Prudente, Rio Claro, São José do Rio Preto, São Vicente, Sorocaba e Tupã (dados do site oficial), todo o evento é montado apenas por alunos, com o apoio de seus campi e prefeituras. A instituição aprova a festa para que haja a renovação do fôlego dos alunos pelo stress do segundo semestre.
As unespianas possuem o hábito de customizar suas batas para ficarem mais autênticas, e essa decisão é feita meses antes, juntamente com a escolha e preparação da fantasia, motivo de assunto entre os alunos muito antes do evento.
Aos mais preparados o remédio Engov era tomado para evitar a ressaca dos dias seguidos de bebedeira, o que foi até mesmo a fantasia escolhida por um grupo de meninas.
Alguns se vestiam de marcas de chocolate, Blue man, Maisa, Gripe Suína e eu de Mario Bros, idéia que fui descobrir nada original depois, tirei fotos com todos eles atrás de armários feitos de papelão (entendem a piadinha?).
Aos universitários que não foram, vão. É uma fase que não volta, e existem eventos como estes em outras universidades. Penso como se fosse Meca, deve ir ao menos uma vez na vida para dizer que não deixou de conhecer. Exceto os mais sensíveis, que não gostam de ver homens de cueca, saia ou camisola, detestam palavrão, não conseguem ouvir música alta por muito tempo, tem compromisso e são muito ciumentos, ou usam a voz para trabalhar, pois nos dias seguintes era possível saber quem foi só pelo rouquidão, e ninguém escapou dela. E é importante lembrar que existem unespianos que não gostam desse tipo de festa, alegam ser uma orgia burguesa e dão graças a Deus quando acaba.

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